Gestante de arte

A vida parou em 2020. Mentira, mas às vezes não te deu essa sensação? Em muitos momentos esse sentimento me invadiu e me consumiu nesse ano tão bizarro e PQP como isso é angustiante! Mas a vida não parou, nós tivemos que desacelerar, mudar, adaptar e a vida seguiu, a gente querendo ou não. De tantos projetos, sonhos, planos pausados, guardados para mais tarde, umas das coisas que mais me dói é não ter dançado durante todo esse tempo. Não me sentir bem em dançar em casa por não estar só para ensaiar, criar, me movimentar. Não ter avançado quase nada nos meus estudos de dança afro depois de ter conseguido tanto em 2019. Sentir meu corpo dar 1, 2, 20… sei lá quantos passos para trás pela ausência do movimento. Perdi alongamento, a respiração tá uó, a resistência…. hahaha que resistência? Enfim, senti a arte indo embora, me senti impotente e isso doeu. Dancei forçada quando precisei e senti raiva da dança. Isso doeu também. Em determinado momento decidi lavar minhas mãos e “aceitar”: esse ano não tem dança. Não para mim. Tentei direcionar minha carência de criação para outros lugares, fiz macramê, costurei máscaras, fiz vela perfumada, incenso natural, testei receitas novas na cozinha e comecei a fazer colagens digitais (já até postei algumas aqui). umas das poucas experiências positivas que 2020 me proporcionou.

Em algum momento Leandra me pediu uma colagem para o perfil de astrologia dela, Céu Ancestral. Era para falar sobre a lua cheia em touro. E criando essa colagem fiquei refletindo sobre a lua cheia, sobre essa gestação que me havia sido pedida, sobre criação. E me senti fértil. Senti que a arte não tinha me abandonado, que essa ansiedade, essa espera, é a de quem está gerando algo em suas entranhas. Me senti gestante de arte e isso amenizou as dores de 2020. Não vou dizer aqui que esse foi um momento de “gratiluz” e a partir de então tudo se transformou e agora vejo esse ano como [adicione aqui sua história de motivação preferida]. Não mesmo,  mesmo com seus bons momentos e alívios, esse ano para mim foi péssimo e só espero que o próximo seja menos angustiante. Mas hoje entendo que a arte está comigo  e temos uma relação de todas as vidas.

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